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CPI da Tucunaré: depoimento de empresário movimenta sessão marcada por tensão e esclarecimentos em Fartura

Audiência pública durou momentos tensos e trouxe novos elementos sobre contratos de manutenção da frota municipal

A noite de 6 de novembro de 2025 foi de tensão e expectativa na Câmara Municipal de Fartura, durante mais uma sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga possíveis irregularidades nos serviços da Garagem Municipal. O principal momento da reunião foi o depoimento do empresário Marcos Frank Stuani, proprietário da Auto Giro Mecânica em Geral, empresa responsável por parte da manutenção da frota de veículos da Prefeitura.

A sessão foi aberta por volta das 19h30 pelo presidente da CPI, vereador Anderson Luiz Cassiano de Lima (PSD), que conduziu os trabalhos ao lado do relator Henrique Mendes Lucarelli (PT) e do membro João Alexandre Buranello Sobrinho (PSDB). No plenário, um público atento acompanhava em silêncio, enquanto os vereadores analisavam pilhas de documentos com notas fiscais e ordens de serviço.

O início do depoimento

Logo nas primeiras falas, o empresário afirmou que todos os serviços realizados pela Auto Gito foram executados “de forma correta, com nota fiscal e autorização da Prefeitura”. Segundo ele, os atendimentos eram solicitados pela própria Garagem Municipal e seguiam um fluxo administrativo padronizado.

“Normalmente o encarregado ligava, eu fazia o orçamento e aguardava a aprovação”, explicou Frank.

Questionado sobre os contratos, o depoente confirmou que os serviços eram realizados mediante ordens de serviço, e não por contrato fixo.

“Eram manutenções emergenciais. A Prefeitura chamava conforme a necessidade”, afirmou.

Durante a primeira parte da oitiva, os vereadores mantiveram tom técnico, questionando sobre valores, prazos e autorizações. O relator, Henrique Lucarelli, reforçou o caráter investigativo da comissão:

“Nosso papel é compreender os procedimentos administrativos, sem prejulgamentos.”

Frank insistiu que “nunca executou serviço sem nota ou autorização”, destacando que “todas as ordens eram registradas”.

Questionamentos sobre valores e ordens emergenciais

Com o andamento da sessão, o relator apresentou documentos indicando pagamentos à Auto Gito que somariam mais de R$ 80 mil entre 2024 e 2025. Frank confirmou o montante aproximado, explicando tratar-se de serviços acumulados de diferentes veículos da frota — caminhões, ambulâncias e viaturas.

O empresário afirmou que, em situações emergenciais, os reparos eram realizados antes da emissão formal da ordem de serviço.

“Quando a ambulância quebra com paciente dentro, a gente faz o serviço e a OS vem depois”, disse.

Esse ponto gerou um dos momentos de maior tensão entre o depoente e o presidente da CPI, Anderson Lima, que questionou a legalidade das autorizações retroativas:

“O senhor entende que isso é irregular, não é?”

“Depende, vereador. Quando é urgência, não dá pra esperar papel”, respondeu Frank.

Apesar do tom firme, o embate foi controlado pelo relator Lucarelli, que pediu serenidade e manteve o foco nas apurações documentais.

Relação entre empresas e novas suspeitas

Em uma segunda rodada de perguntas, o relator abordou a relação entre a Auto Gito e a empresa Tucunaré, também contratada pela Prefeitura. Documentos indicavam que ambas emitiram notas para o mesmo veículo em datas próximas.

Frank esclareceu que “não havia parceria formal” e que, em alguns casos, “a Prefeitura comprava as peças para a Tucunaré”.

“Nunca houve divisão de pagamento ou repasse entre empresas”, afirmou.

Os vereadores registraram a explicação e destacaram que a CPI continuará cruzando informações para verificar coincidências de datas, valores e quilometragens de veículos atendidos.

Encerramento da oitiva

Por volta das 20h45, o presidente encerrou os trabalhos agradecendo a colaboração do depoente.

“A CPI busca a verdade com responsabilidade e transparência. Todas as informações serão analisadas junto aos documentos apresentados”.

Antes de deixar o plenário, Marcos Frank disse sentir-se injustiçado pelas citações feitas à sua empresa em etapas anteriores da investigação:

“Meu nome foi jogado no meio disso sem motivo. Trabalho há anos com honestidade e tudo está documentado”.

Repercussão e próximos passos

O depoimento, gravado por populares, teve ampla repercussão na cidade. Moradores comentaram o tom firme do empresário e a postura dos vereadores durante a condução da sessão.

Nos bastidores, os membros da CPI avaliaram que as declarações de Frank “abriram novas frentes de apuração”.

Lucarelli destacou que a fala do empresário “ajuda a entender o fluxo de serviços e as urgências da garagem”, enquanto Anderson Lima enfatizou que a comissão “irá confrontar cada informação com documentos oficiais”.

Já o vereador João Buranello ressaltou que “a CPI é um instrumento técnico, não um tribunal”, reforçando o compromisso com a transparência.

A comissão deve ouvir, nas próximas reuniões, servidores da Garagem Municipal e ex-diretores de Transportes, com o objetivo de esclarecer a emissão de ordens emergenciais e a execução de serviços aos fins de semana.

Síntese e observações da sessão

Durante o depoimento, ocorreram três momentos de tensão entre o empresário e o presidente da CPI, Anderson Lima, motivados principalmente por:

* divergência sobre ordens de serviço retroativas;

* questionamentos sobre variação de preços de peças;

* debate sobre autorizações verbais e urgências.

Em todos os casos, as discussões foram contornadas pelo relator Lucarelli, que reiterou o caráter técnico da CPI.

Ao fim da sessão, o sentimento predominante no plenário era de que o depoimento de Marcos Frank representou um ponto de virada na investigação. As informações apresentadas, aliadas ao material documental já reunido, devem orientar os próximos passos da comissão, que promete divulgar um relatório preliminar ainda neste mês.

“Nosso compromisso é com a verdade e com a população de Fartura”, concluiu Lucarelli ao encerrar a noite.

Com isso, a CPI da Tucunaré segue como um dos principais assuntos da política local, mobilizando o debate público sobre transparência, controle administrativo e responsabilidade na gestão da frota municipal.

Confusão após a sessão

Episódios ocorridos após o encerramento da audiência, envolvendo o vereador Anderson Lima e o empresário Marcos Frank Stuani, serão analisados pela Presidência da Câmara Municipal.

Fontes presentes na Casa de Leis relataram que, após o encerramento da reunião, ocorreu uma discussão acalorada entre o vereador Anderson Luiz Cassiano de Lima (PSD), presidente da CPI, e o empresário. Segundo relatos, houve exaltações e troca de ofensas verbais entre ambos.

Pouco tempo depois, conforme informações apuradas pelo Portal Notícias da Divisa, o vereador Anderson teria se encontrado com o presidente da Câmara Municipal, Bruno Guazelli Durço (PSD), nas áreas internas de acesso restrito do Legislativo. Ainda de acordo com as fontes, o encontro também teria sido marcado por novas ofensas verbais, desta vez direcionadas ao presidente do Legislativo.

Procurado pela reportagem, Bruno Guazelli confirmou o ocorrido e afirmou que medidas administrativas serão adotadas:

“Já comuniquei o Jurídico, que vai levantar a responsabilidade sobre o ocorrido. O Jurídico pediu um prazo até a próxima quarta-feira. Houve quebra de decoro por parte do presidente da CPI durante o episódio, e as providências cabíveis serão tomadas dentro do regimento da Casa”, declarou.

Ocorrência fora do ambiente legislativo

Segundo testemunhas, a confusão não se limitou às dependências da Câmara. Momentos após o encerramento da sessão, uma nova situação de conflito teria sido registrada nas proximidades de um posto de combustíveis e conveniência, localizado próximo ao bairro, na localidade conhecida como Jardinzinho.

De acordo com relatos obtidos pela reportagem, familiares e amigos do vereador Anderson Lima teriam se dirigido ao local e tentado intimidar o empresário Marcos Frank Stuani. As testemunhas afirmam que o confronto não evoluiu porque um amigo do empresário chegou ao estabelecimento e interveio, o que teria levado os envolvidos a se dispersarem.

Até o momento, nenhum boletim de ocorrência foi oficialmente confirmado pelas autoridades policiais, e os citados não se manifestaram publicamente sobre o episódio ocorrido fora da Câmara.

A Presidência do Legislativo informou que acompanhará o caso internamente e que eventuais providências serão tomadas com base em provas e dentro dos limites legais e regimentais.

Com isso, a tensão política gerada pela CPI da Tucunaré segue repercutindo no cenário local, agora também marcada por incidentes que extrapolaram o ambiente institucional da Câmara Municipal de Fartura.