Na noite de 24 de novembro durante a oitiva da encarregada da frota municipal, Dayane Zambon Pereira, realizada pela Comissão Parlamentar de Inquérito que apura possíveis irregularidades na manutenção dos veículos da Prefeitura de Fartura, expôs uma série de fragilidades administrativas, improvisações operacionais e episódios de pressão externa envolvendo seu nome e o funcionamento da garagem municipal. O depoimento, gravado e anexado aos autos da CPI, detalhou o cenário encontrado entre janeiro e março de 2025, período sem licitações vigentes e marcado por atendimentos emergenciais.
Frota em estado crítico e ausência de licitação
Ao assumir a chefia da frota no início de janeiro de 2025, Dayane afirmou ter encontrado um quadro “grave e urgente” na estrutura dos veículos da educação e da saúde. Segundo ela, muitos ônibus operavam com óleo vencido e freios em condição insegura, colocando em risco 1.500 alunos às vésperas do início do ano letivo. Na saúde, veículos essenciais para consultas, internações e deslocamentos imediatos também apresentavam problemas significativos.
Sem contratos em vigor e enfrentando o que descreveu como “denúncias, morosidade e travas administrativas” no processo licitatório, Dayane relatou que a equipe iniciou uma busca emergencial por empresas em Fartura, Taguaí, Sarutaiá e região para obtenção de orçamentos.
“Sem orçamento, você está no escuro”, declarou. “A população precisava desses veículos funcionando para ontem”.
Atuação da empresa Tucunaré e as ações emergenciais
A empresa Tucunaré, alvo central da CPI, apareceu na garagem na segunda quinzena de janeiro oferecendo equipe para avaliação dos veículos. Dayane confirmou que a empresa realizou cotações de grande porte e, diante do risco iminente de colapso da frota escolar, executou troca de óleo e revisão de freios em 11 ônibus, com peças fornecidas pelo estoque municipal.
Apesar das intervenções, a servidora sustentou que não houve pagamento à Tucunaré, nem autorização para serviços completos, apenas para avaliações técnicas necessárias às cotações. A empresa deixou o local por volta de 15 de fevereiro.
Sobre o motor da máquina JCB enviado à empresa em Assis, Dayane foi categórica: tratou-se de envio exclusivo para orçamento, após outras empresas locais recusarem o serviço. O motor, segundo ela, retornou à garagem sem qualquer manutenção.
Funcionamento interno, improviso e sobrecarga
Dayane descreveu um ambiente de trabalho marcado pela falta de estrutura, ausência de contratos e desigualdade de recursos humanos. Um único mecânico da prefeitura — já sobrecarregado com máquinas pesadas — não conseguia atender a demanda. Funcionários, segundo ela, passaram a agir coletivamente para evitar a paralisação dos serviços.
“Trocar pneu, puxar cabo, resolver problema simples… nós mesmos fazíamos. Era a união que mantinha a garagem funcionando”, afirmou.
Cotações, autorizações e ciência da administração
A servidora declarou que todos os serviços executados por empresas seguiram o procedimento de três cotações, com orçamentos de Auto Giro, Arakaki, empresas da região e mecânicos especializados.
Ao ser questionada sobre conhecimento do prefeito, Dayane afirmou que ele tinha ciência de que empresas — incluindo a Tucunaré — realizavam orçamentos e acompanhava a movimentação na garagem, cobrando agilidade diante das reclamações da população. Entretanto, Dayane reforçou que não recebeu ordens para favorecer empresas e que não houve autorização para execuções sem cotação ou sem respaldo documental.
Pressão externa e tentativa de influenciar depoimento
Um dos momentos mais tensos da oitiva ocorreu quando Dayane revelou ter sido indiretamente procurada por denunciantes da CPI. Segundo ela, seu esposo foi abordado em via pública e informado de que ela deveria incriminar o prefeito, sob ameaças veladas de que seria presa e de que haveria vídeos e provas contra ela.
“Me senti acuada”, afirmou. “Falaram que eu seria responsabilizada por tudo isso. Foi pesado”.
Dayane disse ter aguardado a oitiva para relatar oficialmente o episódio e que, até então, não havia registrado boletim de ocorrência.
Manutenção dos maquinários e lacunas no processo
Ao ser questionada sobre o suposto sucateamento dos maquinários — ponto destacado pelo prefeito em transmissões ao vivo no início do mandato —, Dayane afirmou não ter informações sobre quem realizou as manutenções que posteriormente colocaram as máquinas em operação.
Já sobre a assessoria jurídica da prefeitura, declarou que o setor não acompanhou diretamente os trâmites na garagem durante os primeiros meses.
Encerramento da oitiva
Após quase duas horas de depoimento, vereadores da CPI declararam satisfeitas as respostas e encerraram a sessão. O relato de Dayane será incorporado ao conjunto probatório da comissão, que continua analisando a legalidade das ações realizadas, a eventual atuação informal de empresas na garagem municipal e possíveis responsabilidades administrativas.